PRIMEIRA PARTE
O
século das luzes despertou
O
mundo das ideias, da razão;
A
luz desse lume se espalhou
Iluminando
o céu do sertão.
E
nas margens do Rio sabugy
A
história da gente começou
Pelas
mãos de Negreiros o porvir
Para
brancos e índios se mostrou.
Mas
o convívio de irmãos findou
Assim
que as mentes se enxergaram!
Foi
quando o gênio da cobiça iscou
Os
olhos que nunca mais gritaram.
Dai
a ganância a beijar a morte
Sob
a lei do azorrague ardido,
No
cabo o punho mau da coorte
Ao solo o sonho virgem vencido.
Ao solo o sonho virgem vencido.
Por
força da gana foram caçados
Como
bicho, oh Meu Deus, que horror!
Faz
o homem aos homens humilhados
Sob
o céu de infâmia, meu senhor!
O
bando de sicários implacáveis,
Desalmados
ao extremo; insanos!
Trucidavam
àqueles miseráveis
Para
o bem da casta dos tiranos.
O
asseio étnico, o extermínio
Ações
típicas dos feros grileiros,
Que
exercem pela terra fascínio
Sob a guarda perversa de rafeiros.
Sob a guarda perversa de rafeiros.
Ensurdeceram
as vozes da terra,
Os
sons se perderam na tempestade
Dos
vivos que só herdaram da guerra
Os
dons de morrerem na eternidade.
Dizimados
os Netos de Janduí,
Reino
pilhado, tudo ao inferno!
O
sangue pelo poder a exibir
Corpos
inumados no chão materno.
Assim...
Cessou-se sem “resplandecer”
As
seis décadas de barbárie calma;
Até
a carta desalmada vencer
A
vida insubordinada n’alma!
Do
ilustre a ordem intempestiva
Fez-se
sesmo aquele chão sagrado,
Morte
inerme à nação nativa
Na
carta o crime assinalado.
O
sesmeiro, silente, atilado,
Esconso
no Reino de Janduí,
Pela
caatinga ingente, cismado,
Espreitava
um feudo construir.
À
Baia o sesmo aos índios morte,
Na
verdade, hábito recorrente!
Na
America do Sul e do Norte
Crimes
impunes brasileiramente.
Salve
a ninfa das antigas lendas,
Na
crença nativa ente vestal,
Oh!
São Mamede. Oh! Santo menino
O
seu nome veio de Portugal.
À
Baia o sesmo aos índios morte,
Jacta-se
o crime à extinção!
O
Vale em mãos alheias sem norte
O
Sabugy alheio à injunção.
Então,
o século sem luzes partiu,
Sem
história, pobre foi-se em vão,
Nada
deixou de legado, sumiu,
Pelas vagas
dispensas do sertão.
Nasce
o século principio do fim
Dos
impérios de memórias desertas,
Que
transcende de um tempo ruim
Á
era das invenções e descobertas.
Aos
poucos o vento da liberdade
Sopra
o rosto do poder absoluto:
Ferindo
sua falsa intensidade
Negando
a ordem desse instituto.
A
massa serva se expõe ao sonho
De
viver dias ao som de seus tambores
Até
olvida o fado medonho
Proseando
em versos seus louvores.
Oh!
Liberdade amante dos loucos,
Tu
és eterna, santa quando mondas,
A
última vaidade dos naroucos
Quando
varres esse mal em tuas ondas.
Os
feitos do século das grandezas
Apontam
os rumos da liberdade:
Justiça
na divisão das riquezas
É
a senda pra gerar a igualdade.
E
o Vale caminha esquecido
-
Pelo mundo dos serviçais (amem!) -
Sob
o relho no lombo sem gemido
Só
aceitam aquilo que os convém!
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